“Não existe mercado livre sem um governo ditando as regras do jogo. Quais tipos de regras? As que regulam a propriedade, monopólio, contratos, falência e segurança.”
A grosso modo, Salvando o Capitalismo, documentário da Netflix homônimo ao livro de Robert Reich, é sobre como a desigualdade social está destruindo o capitalismo com a renda da classe média migrando para deixar ainda mais rico o 1% do topo da pirâmide. É sobre o quanto está dando errada a política de desregulamentação do mercado*, que empobrece o cidadão e atrapalha a livre concorrência. É sobre a bobagem do bolo crescer para depois dividir.
Reich é uma das vozes mais lúcidas da atualidade. Depois de publicar o livro, rodou os Estados Unidos conversando com trabalhadores, que viram suas rendas despencarem, e com lobistas e milionários que influenciam o governo a tomar decisões que os favorecem.
Deixando de lado rótulos como republicanos ou democratas, direita ou esquerda, mediando conversas entre diferentes setores, mostra que na terra do Tio Sam a população está percebendo que a verdadeira divisão se dá entre megacorporações e o cidadão comum, visão alinhada com o que Naomi Klein vem publicando há anos. Tea Party e Occupy Wall Street indo para as ruas com as mesmas reivindicações é como coxinhas e petralhas se juntando numa mesma pauta. Dividir a população em dois lados só favorece os verdadeiros carrascos do sistema. Segundo Reich, a força está na união.
A dinâmica de lá é a mesma daqui: quem financia as campanhas políticas são os que escolhem a leis que serão aplicadas no mercado. O capitalismo de compadrio, termo usado no documentário, também é uma realidade lá.
Salvando o Capitalismo é um filme necessário. Quero ler o livro, ainda inédito no Brasil. Reich finaliza com três dicas para quem quer ser ativista: persistência (mudanças sociais demoram para acontecer); saia da bolha (converse com pessoas que pensam diferente); e divirta-se!
Um aparte: acabei de assistir também o último episódio de Rotten, que mostra como o sistema de cotas de pescas está caminhando para ser negociado na bolsa de valores. Pescadores autônomos, que antes eram donos de seus barcos e ficavam com o resultado do seu trabalho, em breve terão que negociar cotas e serão apenas arrendatários de megacorporações que negociam no mercado de ações.
* Reich não fala sobre desregulamentação, fala sobre para quem o governo vai governar: para as grandes empresas ou para os trabalhadores.
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