segunda-feira, 26 de novembro de 2018

A filosofia do coentro

Tive uma professora de filosofia na faculdade que tinha a certeza absoluta que o comportamento humano é resultado único e exclusivo do meio, moldado pela cultura. Àqueles que pensavam na influência da genética e da biologia, como eu, ela apenas reservava um sorriso debochado como se estivesse dizendo: você é jovem, não sabe nada da vida ainda. Desde então, toda vez que leio alguma coisa sobre o assunto eu lembro dela.

Uma das coisas boas que 2018 me deixou foram os livros. Apesar dos pesares, a produção literária e científica continua avançado e nos dando um sopro de esperança.


Em O Gene, Uma História Íntima, o médico indiano Siddahartha Mukherjee traça toda a história da descoberta dos genes, começando nas primeiras reflexões sobre hereditariedade feitas pelos filósofos gregos. Passa pelo experimento das ervilhas de Mendel, a teoria da evolução, o projeto genoma até as mais recentes descobertas, entre elas, estudos comportamentais que provam que identidade de gênero, preferencia sexual, temperamento e personalidade são cingidos pelo DNA. A cultura, obviamente, tem influência, mas o ser humano quando nasce não é uma massa disforme que pode ser totalmente moldada pelo meio.

Difícil acreditar que já no Século XX uma docente universitária tenha esse tipo de pensamento, que começou a cair na década de 70. Mas sabe a diferença entre um filósofo e um geneticista? O geneticista faz experimentos. Dezenas de estudos com centenas de gêmeos idênticos e fraternos, criados em famílias separadas, já foram realizados e mostraram que os irmãos univitelinos possuem mais semelhanças de personalidade do que os bivitelinos, deixando claro que existe um fator hereditário na equação, apesar de ainda não terem sido localizados os genes comportamentais. Já o filósofo chega às suas conclusões partindo apenas de reflexões teóricas.


Não tem aqui nenhum juízo de valor, não estou dizendo que uma é melhor que a outra, só estou apontando as diferenças. As ciências duras tiveram origem na filosofia, mas em algum momento da história alguns resolveram testar suas hipóteses através de experimentos e criaram novos ramos do conhecimento.

O mapeamento genético avançado só foi possível graças ao avanço da capacidade de processamento de dados dos computadores, coisa de não mais do que vinte anos, ou um pouco menos. Como estes estudos levam muitos anos para serem realizados e precisam de muitos recursos, ainda não temos provas que apontam genes à personalidade, mas as evidências são claras e em breve novas descobertas confirmarão ainda mais a importância do DNA em nosso comportamento, desde nossas preferências sexuais até o gosto pelo coentro.

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Li Gene com o Youtube aberto para assistir aulas de genética para o Enem e relembrar conceitos básicos e entender melhor o livro. A forma que a vida encontrou para se multiplicar e evoluir é de extremamente bela, quase poética. A divisão celular, os cromossomos, o DNA... pensar em como tudo isso surgiu dá um nó na cabeça.

Apesar de Mukherjee não tratar de como a vida se originou no planeta, imaginar elementos químicos se combinando no fundo do mar, criando aminoácidos que juntos formaram esferas de gordura, as cariotecas primitivas, e dentro delas outros aminoácidos e açúcares criando os primeiros DNAs capazes de se multiplicar até chegar, em milhões de anos, a seres conscientes como nós é incrível. Algo tão improvável de acontecer que não duvido que sejamos os únicos seres inteligentes do universos, e olha que o universo é tão grande que beira o infinito.

Só em nossa galáxia, a Via Láctea, existem quatrocentos bilhões de estrelas, o que equivale a dez estrelas por cada grão de areia que tem na terra. E cada estrela pode ter vários planetas em volta, o que faz com que o número de lugares onde possa ter surgido vida consciente seja tão grande que nossa mente limitada não consegue nem imaginar. E isso apenas em uma galáxia, dentre as bilhões e bilhões que existem.

Os próximos temas que quero estudar são evolução das espécies e astronomia. Alguma recomendação de livros sobre estes assuntos, numa linguagem parecida com a utilizada por Harari (de Sapiens) e Mukherjee?

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