sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Nossas vidas no trânsito


O que você acharia se a prefeitura colocasse no meio da rua, por motivos estéticos, um canteiro gramado que forçasse os carros a dar a volta para continuar o trajeto? Absurdo, né? Então por que temos que achar normal quando fazem isso na calçada, com o pedestre?

A esquina da foto fica na Rua Sacadura Cabral. O arquiteto que fez o planejamento da via colocou um gramado no meio do caminho, acreditando que desta forma forçaria o trânsito das pessoas até a faixa de pedestre. Obviamente que não é assim que funciona na vida real e todo mundo passa por cima da grama. Com o tempo, toda a vegetação morre e fica só a terra. Reparem que por onde as pessoas não passam ainda está verde.

É um transtorno financeiro, já que o consórcio vez por outra precisa repor a grama, e é um transtorno para os caminhantes que encontram um obstáculo no percurso. Quando chove vira lama, piorando ainda mais a situação.

Hoje em dia, no trânsito de Nova Iorque, morrem menos pessoas do que na época em que circulavam carroças nas ruas, e a prefeitura conseguiu fazer isso entendendo a dinâmica de uso da cidade.

Culpar o pedestre que morreu embaixo da passarela não vai resolver. Se queremos realmente diminuir o número de pessoas que morrem em seus deslocamentos precisamos observar como a cidade é usada. As pessoas não vão usar uma passarela muito grande, assim como não vão esperar vinte minutos o sinal fechar para os carros. Nova Iorque entendeu isso e planejou seus espaços para atender às demandas dos pedestres, se tornando caso de sucesso na redução de mortes.

No Brasil, o caminho mais curto sempre vai ser o do carro. O motorista que for cruzar a Av. Presidente Vargas vai fazer uma linha reta. Já o caminhante vai precisar entrar na Av. Passos, andar 50 metros até o sinal e depois voltar para a Vargas. Este desvio acontece em vários outros cruzamentos e é comum encontrar grades nas calçadas para obrigar as pessoas a fazerem este desvio. Obviamente, muita gente se arrisca andando entre a grade e os carros e a culpa não é da falta de educação da população, é culta do planejamento urbano inadequado que prioriza o caminho dos veículos motorizados em detrimento da nossa vida.

Na minha palestra sobre mobilidade eu exibo a reportagem abaixo do Jornal Nacional. Nunca se morreu tão pouco no trânsito novaiorquino e isso aconteceu reduzindo a velocidade das vias, diminuindo espaços para os carros, aumentando as calçadas e dando real prioridade aos pedestres.

A pergunta que me faço é seguinte: até quando, no Brasil, a vida vai ter menos importância do que a pressa do motorista?

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