sexta-feira, 18 de maio de 2018

Big Brother da vida real

Moro perto do prédio da Polícia Federal no Rio, ao lado da Praça Mauá. Consequentemente bebo nos mesmo bares que os policiais, e semana passada um deles sentou na minha mesa e conversamos por um bom tempo. Ele trabalha ouvindo escutas autorizadas pela justiça e fazendo transcrições das conversas, que servem para alimentar as investigações que estão em curso. Lembrei de um filme dos Estados Unidos no qual o protagonista é um agente da CIA que trabalha como analista de informações, também ouvindo escutas e interceptando e-mails, atividade realizada por quase a totalidade dos agentes, realidade bem diferente daquela retratada no cinema com espiões agindo secretamente em território estrangeiro e trocando tiro com terroristas.

A realidade brasileira é parecida, boa parte da força policial federal trabalha com informações. As ações de rua, de busca e apreensão, geralmente são realizadas pelos novatos ou pela força especial que sai em operações específicas e de alto risco. A revista piaí de maio narra uma dessas operações, digna de virar filme.

A principal diferente entre e terra do Curupira e a terra do Tio Sam é a tecnologia. Por lá, algorítimos 'ouvem' as conversas e separam palavras chaves. Por aqui, ainda precisamos de uma pessoa com fone no ouvido e digitando tudo que os suspeitam falam.

Uma coisa que ainda não conseguiram grampear, pelo menos por aqui, são as conversas do WhatsApp, o que dificulta muito as investigações. Tudo que a PF consegue fazer é plugar o aparelho apreendido num equipamento, chamado de chupa-cabra, e baixar as mensagens. E este equipamento custa muitos milhares de reais.

Ainda que tecnicamente seja possível instalar um app espião, é necessário estar de posse do aparelho desbloqueado para isso. Ou através de aplicativos maliciosos, de origem duvidosa, instalados pelo proprietário sem saber. Por isso é fundamental ficar atendo a tudo que colocamos no celular, de preferência apenas produtos de empresas conhecidas, como Google, Microsoft ou Apple. Aquele joguinho passa-tempo pode estar te espionando, com acesso ao seu microfone, câmera e conversas.

O WhatsApp, ao que parece, realmente é um ferramenta a prova de invasão. Muitos juízes que não conhecem a tecnologia já solicitaram ao Facebook, empresa proprietária do aplicativo, mensagens de pessoas que estavam sendo investigadas. Diante da impossibilidade de fornecer esses dados, que são criptografados e apenas o emissor e o receptor têm acesso ao conteúdo, mandaram tirar o programa do ar no Brasil. Isso já aconteceu umas duas ou três vezes, mas por apenas algumas horas, já que as medidas foram revogadas por outros juízes.

Ter um pouco de privacidade é reconfortante, apesar de saber que o acesso a estas conversas poderia ajudar a desvendar muitos crimes. Lembro de acompanhar pela imprensa o desaparecimento de um adolescente e ficar imaginando se seu paradeiro não teria sido descoberto com mais facilidade se os investigadores tivessem tido acesso às mensagens do WhatsApp, mas ainda acho a privacidade mais importante. Não apenas por questões pessoais, mas porque acredito que isso possa coibir o caminho para um futuro distópico.
Fonte da imagem
Nos Estados Unidos existe uma briga entre a justiça, a polícia e a Apple para que a empresa forneça ferramentas que permitam que investigadores acessem iPhones apreendidos. A Apple tem lutado até onde pode para não permitir isso, visando proteger seus usuários. Em um caso recente, a polícia invadiu um velório para desbloquear, através da digital, o telefone do morto.

Somos vigiados

Tenho certeza que meu celular tá me ouvindo 24 horas por dia. A incidência de anúncios relacionados às minhas conversas é tão grande que já passou de qualquer possibilidade estatística de ser coincidência. Não sou terrorista nem trabalho com informações confidenciais, mas, caso fosse, meus hábitos seriam outros. Ainda assim, passei a tomar alguns cuidados que compartilho com vocês:


Celular: só instalar apps confiáveis e bloquear acesso ao microfone e câmera. Só ligar o GPS quando for necessário.

Navegador: atualmente uso o Brave, que bloqueia quase todos os anúncios (no Youtube não aparece nenhum, os vídeos rodam sem nenhum tipo de interrupção), localizadores e cookies (arquivos instalados no computador que registram os hábitos do usuário). Se você quer continuar com o Chrome, instale um adblock confiável.


Se é exagero eu não sei, mas já chegamos num futuro distópico na China, que controla por vídeo quase todos seus cidadãos, um Big Brother real. Proteger até o fim nossas informações nos ajuda a evitar que esse tipo de coisa aconteça por aqui.

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