Criei o hábito de anualmente publicar no Facebook no dia 3 de novembro se choveu ou não na véspera, aka Dia de Finados. Nas últimas cinco ocorrências só choveu uma vez, vinte por cento dos casos, mas ainda assim é extremamente comum achar pessoas que têm certeza que sempre chove. Você se pergunta por que isso acontece? Por que as pessoas mantêm uma fé inabalável na precipitação do dia 2 de novembro? Felizmente a ciência tem a explicação. Senta que o titio vai falar sobre viés de confirmação e dissonância cognitiva:
Temos a tendência de somente perceber os fatos e informações que confirmem nossas crenças e ignorar tudo que nos contradiz. No caso em questão, as pessoas realmente esquecem dos dias em que não choveu, mas vão lembrar daqueles que choveram mesmo que ocorridos há muitos anos. A isso a psicologia dá o nome de viés de confirmação.
Suponhamos que no dia 3 de novembro alguém vire para um desses crentes e mostre que fez um lindo dia de sol na véspera. Ao perceber isso, a pessoa vai sentir um desconforto psicológico, já que está diante de duas informações conflitantes. Naturalmente vamos tentar acabar com este desconforto, também conhecido como dissonância cognitiva. O indivíduo tem três opções:
a) ignorar o dia que não choveu e realmente esquecer, depois de algum tempo, essa informação e continuar acreditando que sempre chove;
b) interpretar o fato de forma tendenciosa, como dizendo que onde a tia dela mora em Manaus choveu;
c) recriar todo seu sistema de crenças e aceitar que realmente não chove. Mas isso dá muito trabalho. Requer um esforço mental enorme que muitas vezes tem efeito dominó e requer a reavaliação de outros valores. Por isso as pessoas evitam esta opção e preferem continuar na segurança de suas convicções.
Entendeu? A ciência não é incrível?
Will Tirando |
Isso acontece com todo mundo em todos os campos de conhecimento: na religião, política, esportes, relacionamentos amorosos, quando estamos tentando perder peso mas nos deparamos com um pedaço delicioso de pizza e procuramos um motivo para comer e não sentir culpa, enfim, ninguém está livre disso e na maioria das vezes ficaremos do lado mais confortável destes dilemas diários.
Em resumo:
Alguém que acredita que que chove todo dia dois de novembro é confrontado com o fato de não chuva nesta data. Ele sente um desconforto psicológico (dissonância cognitiva), já que está diante de duas ideias conflitantes. As opções que este indivíduo tem: esquecer desse dia que não choveu ou fazer uma interpretação tendenciosa para manter suas crenças (viés de confirmação) ou mudar todos seus valores, o que consome muito tempo e energia.
Há décadas cientistas anotam todas as chuvas que acontecem no mundo. Essa informação está disponível na internet. Você escolhe a região e a data e aparece uma planilha com a quantidade de milímetros precipitados. Ia fazer uma relação com os últimos dez anos para mostrar que não chove todo dia dois de novembro, mas desisti. Mas adianto o resultado: não chove. Se você acredita nisso, suas opções estão dadas.
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