quinta-feira, 19 de julho de 2018

Existem níveis seguros para uso de agrotóxico?

Tenho um amigo que cansou da vida na cidade grande e virou agricultor. Foi um processo de anos, enquanto trabalhava nos escritórios de grandes empresas ia estudando bioconstrução, produção de alimentos orgânicos, controle natural de pragas, foi pesquisando terrenos para comprar e adquirindo as demais habilidades necessárias. Neste ínterim, conheceu um produtor que utilizava agrotóxicos nos vegetais que seriam vendidos na feira, mas aqueles que seriam consumidos pela sua família eram cultivados separadamente.

Quando uma pessoa desenvolve um câncer, são dezenas de fatores que podem ter influenciado o surgimento da doença. Sedentarismo, fatores genéticos, fumo, poluição do ar e da água, alimentação (excesso de sal, açúcar, gordura e aditivos químicos), tóxicos adicionados em milhares de produtos, desde cosméticos, recipientes plásticos para conservação de alimentos, roupas e utensílios domésticos, contato prolongado com certos equipamentos eletrônicos, remédios, radiação e até vírus são apenas alguns dos exemplos. Apontar a influência de cada um desses fatores é um prognóstico sujeito a grande margem de erro.

As pesquisas nesta área precisam utilizar animais em laboratório, que possuem um ciclo curto de vida e todas estas variáveis podem ser isoladas. Impossível começar esses testes com seres humanos, que podem viver 80 anos e cujos hábitos diários não são monitorados com eficácia, dependendo, basicamente, de anotações enviadas aos pesquisadores.

O que quero dizer é o seguinte: quando alguém desenvolve um câncer, só é possível apontar as causas da doença em situações extremas, como quando vários trabalhadores rurais são expostos a agrotóxicos sem proteção adequada. Ou trabalhadores das minas de carvão ou amianto. Tirando esses casos, fartamente documentados, um médico só pode indicar os diversos fatores de risco num paciente que não passou por estes extremos, como eu e você, por exemplo.

Diante deste cenário, a ciência ainda não achou uma única pessoa que tenha morrido por conta do consumo de alimentos cultivados com agrotóxicos. Existem muitos indícios dos riscos inerentes quando os protocolos de segurança não são adotados, mas um nome, um rosto com CPF cuja causa da morte tenha sido a ingestão regular de alface tratado com defensivos agrícolas ainda não surgiu. E mesmo se existisse, são centenas de venenos utilizados e apontar a influência de cada um deles é uma atividade tecnicamente impossível de ser realizada.

Essa lacuna é responsável pela quantidade absurda de agrotóxico que nós, brasileiros, consumimos todos os dias. É esse argumento utilizado pelo agronegócio para nos entubar alimentos contaminados. E que já era ruim, pode piorar. A PL do Veneno tá vindo aí.

A revolução verde

Durante quase toda a existência da humanidade, a escassez de comida foi a regra. Foram apenas nas últimas décadas, durante a revolução verde, que conseguimos fazer com que a oferta de alimentos fosse maior do que a demanda. Foi a produção em massa com auxílio dos agrotóxicos que permitiram este que foi um dos maiores avanços na história da nossa espécie. Mas com isso surgiram outros problemas, como o enfraquecimento de tradições alimentares dos povos do mundo inteiro, diminuição das variedades de alimentos, surgimento de multinacionais com mais dinheiro que muitos países, patenteamento de sementes que deveriam ser bens universais do homem, poluição, sofrimento animal e uso indiscriminado de veneno.

Países preocupados com seus cidadãos, na dúvida sobre os efeitos do consumo de alimentos com agrotóxico, restringem a utilização desses produtos, mas por aqui nossos legisladores afrouxam cada vez mais as regras e até dificultam a comercialização de alimentos orgânicos. Querem nos matar em nome do lucro, e conseguem isso colocando deputados e senadores no bolso. É a bancada do boi, da bala e da bíblia.

Outra questão que não existe consenso é sobre se é possível alimentar a população mundial sem uso de transgênicos e venenos. Uns acham que sim, outros que não. Mas no atual momento, o mais sensato a se fazer é seguir a tendência mundial de restrição.

Só lembrando que a indústria do agrotóxico é oriunda da indústria armamentista. A Bayer fazia os gases utilizados para matar judeus durante o holocausto.

Abaixo vídeo explicativo sobre a PL do Veneno. Assine a petição.

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