Cresci numa casa com quintal no Morro do Guarabu, Ilha do Governador. Lembro bem que existiam duas pequenas colmeias, de umas abelhinhas sem ferrões, dentro da parede, cuja entrada dos insetos era através de um tubo de cera que elas produziam.
Não faziam mal a ninguém e junto das borboletas, também comuns naquela época, deram um leve clima bucólico à minha infância.
Mas criança entendiada faz besteira e uma vez fiz xixi dentro de uma dessas colmeias. Mirei o jato exatamente no duto de entrada. Meu pai viu, me deu um safanão, brigou comigo e desde então não tenho mais lembranças desses bichos por lá. Talvez eu tenha matado todos eles.
O Rio é um cemitério indígena que obteve sucesso no seu projeto de fundação que incluía, entre outros objetivos, exterminar toda população tradicional do território usurpado. Não temos mais índios, as únicas coisas que sobraram foram as toponímias espalhadas por toda a cidade.
A Ilha é cheia de lugares com nomes nativos, como Cacuia, Cocotá, Tauá, a própria rua onde cresci, Muapire, além de dezenas de outros logradouros e bairros, como Copacabana, Ipanema e Grajaú, só para citar alguns poucos exemplos. Como bem mostrou Rafael Freitas no livro O Rio Antes do Rio, esses nomes têm ligação direta com as tabas ou características geográficas de seus territórios.
Outro dia resolvi entrar num sebo e comprei um exemplar de Denominações Indígenas na Toponímia Carioca, lançando em comemoração ao quarto centenário da cidade. Já que o morro onde cresci não é um bairro, o significado de seu nome não consta no Armazenzinho, banco de dados do Instituto Pereira passos que contêm, entre outras informações, um resumo da história do Rio.
Com o livro na mão, fui direto no verbete Guarabu: suas variações, como garabu, guaravu e guarau, designam uma casta de abelhas sem ferrões, a Melipona. O Google me levou ao resto da descoberta, mostrando que elas eram criadas pelos povos tradicionais para obtenção de mel e outros derivados.
Entrada da colmeia (fonte da imagem) |
Uma busca das imagens confirmou as minhas suspeitas, são exatamente as abelhinhas que tinham no meu quintal.
Guarabu também pode significar o som do guará, socó (uma ave muito comum na Ilha até hoje) ou uma árvore de grande porte nativa do Rio, mas a história das abelhas é muito mais legal e vai ser essa que vou contar quando perguntarem o significado do nome do morro onde cresci.
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