Essa semana fui assistir uma palestra do Marcelo Gleiser, cientista conhecido como Carl Sagan brasileiro. Astrofísico e divulgador científico, com vários livros escritos, protagonizou no Fantástico uma série sobre o universo aos moldes de Cosmos.
Seu mais recente livro, "O Despertar do Universo Consciente", apresenta uma abordagem sobre como a humanidade percebe a si mesma e o universo que a cerca. Gleiser argumenta que essa nova perspectiva tem o potencial de transformar o mindset das pessoas, instigando mudanças em seus hábitos para conter o processo destrutivo que ameaça levar à nossa própria extinção.
A questão central abordada por Gleiser é que a humanidade está destruindo o planeta em parte devido à sensação de insignificância diante da vastidão do universo. Com trilhões de galáxias e trilhões e trilhões de estrelas e planetas, a Terra parece ser apenas um pequeno ponto sem importância nesse cenário grandioso.
Por outro lado, a probabilidade de um planeta abrigar vida é extremamente baixa, o que torna a existência da Terra quase um milagre em si mesma. Gleiser argumenta que precisamos abandonar essa visão de nos percebermos como insignificantes na vastidão do universo e adotar uma perspectiva centrada na vida, reconhecendo a improbabilidade e o valor único que ela representa.
Essa mudança de paradigma, que Gleiser chama de visão biocêntrica, implica em colocar a vida no centro de nossa relação com o cosmos. Quando todos os seres humanos reconhecerem a raridade e a preciosidade da vida, estaremos no caminho para transformar nossa relação com o planeta e, consequentemente, garantir nossa própria sobrevivência.
No final do livro, ele apresenta um manifesto com sugestões de mudanças individuais que seriam capazes de salvar o planeta, como comer menos carne, por exemplo.
Agora vamos aos meus comentários.
Não acredito que a humanidade esteja relapsa com o planeta por causa desta cosmovisão que implica em enxergar-nos como um pequeno ponto azul e insignificante na imensidão do universo. Eu até gostaria que fosse verdade, queria que as pessoas tivessem tempo livre e condições para refletir sobre seu lugar no universo, mas a realidade é o contrário disso. O negacionismo ganha espaço a cada dia, junto com terraplanismo, movimentos antivacinas e extremismo religioso que querem colocar livros religiosos no lugar da Constituição.
Esse tipo de reflexão pode até ser comum na bolha do Gleiser, composta por intelectuais e alunos das universidades estadunidenses de primeira linha onde ele dá aulas, mas o cotidiano do cidadão comum é outro. Estamos preocupados em sobreviver, em colocar comida na mesa e garantir o mínimo de saúde mental.
O atual estado de destruição ambiental que enfrentamos é em grande parte culpa do capitalismo. Este sistema, que favorece o acúmulo de capital por uma pequena parcela da população, coloca os interesses individuais desses poucos acima da saúde do planeta. Enquanto o 1% mais rico prioriza o acúmulo de riqueza, a capacidade da natureza de se regenerar é comprometida. Enquanto isso, os 99% mais pobres precisam recorrer a práticas não sustentáveis para sobreviver e têm pouca ou nenhuma margem para considerar as consequências de longo prazo de suas ações.
Assim, o capitalismo destrói o meio ambiente ao mesmo tempo em que mantém uma desigualdade social brutal, tanto na distribuição dos recursos quanto no poder para implementar mudanças significativas em prol da sustentabilidade.
Outra questão que quero abordar são os hábitos individuais como motor para a salvação do planeta. Economizar água em casa e separar lixo para reciclagem são ações importantes e podem ter um impacto positivo no meio ambiente. No entanto, não é suficiente para salvar o mundo da destruição, isso porque as grandes corporações e indústrias são as principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa e da poluição ambiental.
O mais curioso da palestra foi que Gleiser cita uma conversa que teve com Ailton Krenak, autor do livro Ideias Para Adiar o Fim do Mundo. Mas, para Krenak, achar uma alternativa ao capitalismo para nos livrar da extinção tem mais centralidade do que mudanças individuais de comportamento. Este sistema, além da lógica predatória que leva à crise ambiental, produz alienação do ser humano e uma brutal desigualdade social.
Importante frisar que eu não estou defendendo o comunismo. Só estou dizendo que precisamos de uma alternativa ao atual sistema econômico urgentemente.
Em resumo: qualquer abordagem para salvar o mundo sem enfrentamento ao capitalismo é ingênua. Não basta "mudar o mindset", é preciso organizar a luta coletiva para avançar.
* Este texto foi escrito com ajuda de inteligência artificial para garantir clareza e fluidez.
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