terça-feira, 8 de outubro de 2019

Mais reflexões sobre o Bike Anjo

Na abertura das atividades do Bike Anjo Rio, peço que todos deem as mãos e fazemos um círculo. É o momento em que falo dos nossos objetivos, que vão muito além de ensinar as pessoas a andar de bicicleta.

Falo que ali, pelo menos enquanto durar nossa atividade, será um espaço seguro. Nenhuma minoria será submetida às vontades da maioria e que todos serão tratados com respeito. Peço para que todos se olhem e percebam nossas diferenças. Somos homens, mulheres, trans, gays, héteros, brancos, negros, indígenas, evangélicos, ateus, macumbeiros, ricos, pobres, brasileiros, refugiados e que nenhuma dessas diferenças precisa ser motivo para o ódio ou violência, e o espaço público é por excelência o local onde a gente percebe isso.

No Oriente Médio, árabes e judeus estão literalmente se matando, enquanto aqui no Rio, a região de comércio popular do centro, a Saara, foi criada por essas duas etnias e ambas conviviam de forma pacífica e amigável. A diferença é que aqui não existe um muro separando os dois, e dividir o mesmo espaço físico faz com que a gente enxergue o outro não como um inimigo a ser combatido, mas como um semelhante.

É isso que fazemos no Bike Anjo. Derrubamos os muros invisíveis que nos separam na cidade. O muro da intolerância religiosa que destrói terreiros de umbanda, o muro da homofobia que mata gays e travestis, o muro do racismo que vê quem não é branco como inferior e tantos outros muros. Estimulamos o compartilhamento dos mesmos espaços pelas mais diversas pessoas, pois desta forma semeamos a empatia.

Criamos espaços seguros, e que esses espaços deixem de ser temporários e abarquem toda a cidade.

É assim, no miudinho, que vamos dando nossa contribuição.

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Mais uma ciclista na cidade
Dessas coisas que a gente tá precisando aprender e a vida te ensina de repente.

Hoje, no Bike Anjo, depois de perceber que minha aluna estava pedalando sem minha ajuda, falei: agora você vai sozinha, vou ficar aqui enquanto você vai até o outro lado.

Quando ela começou a pedalar fui correndo atrás sem que ela soubesse. Ao cumprir o trajeto e olhar para trás e me ver, abriu um grande sorriso e exclamou: você tá aí!

Às vezes a gente precisa ir sozinho para cumprir um objetivo, mas é muito bom olhar para trás e ver alguém ali para nos segurar.

Mesmo que você não saiba, tô correndo atrás, e sei que muitos correm atrás de mim.

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