terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Violências cotidianas

Sou homem, branco, classe média e com nível superior. No Brasil essa condição me coloca numa situação bem confortável.

Não sofro o assédio que as mulheres sofrem apenas por serem mulheres;
Não sofro o preconceito que os negros sofrem apenas por serem negros;
Não sofro a violência que os homossexuais sofrem apenas por serem homossexuais.

Poderia incluir nesta lista outros grupos sociais e agressões, mas sabemos muito bem o quanto determinadas pessoas sofrem por serem como são ou pelas escolhas de vida que fizeram. Só estando na pele delas para compreender de fato o quão difícil é, mas alguns exercícios podem ser feitos para nos ajudar a perceber que devemos lutar para acabar de vez com isso.

Outro dia vi uma matéria sobre dois homens heterossexuais que saíram de mãos dadas na Inglaterra. Uma câmera escondida filmou a reação dos transeuntes nas ruas. Lembro de um outro vídeo que mostra uma mulher que registrou as cantadas que levou ao longo de um dia. Violências cotidianas.

Vivi uma situação parecida. Faltando duas semanas para o carnaval, saí fantasiado de Pequena Sereia para a bicicletada de carnaval. Um homem se achou no direito de encostar em mim e puxar minha peruca. Encarei e travamos uma discussão. O argumento dele: sai vestido de mulher na rua tem que aceitar.

Eu tenho que aceitar ser violentado.

Tento imaginar o que travestis e mulheres cis precisam enfrentar todos os dias. Pessoas que são obrigadas a aceitar serem abusadas diariamente por serem mulheres (sim, travestis são mulheres).

Aceitar ser violentado é muito cruel. Estou cercado de pessoas maravilhosas, mas não posso esquecer que são muitos os indivíduos que pensam como o sujeito acima, que acreditam que determinados seres humanos precisam aceitar a brutalidade como se fosse natural.

Outra situação que me coloca em risco é quando estou pedalando. Já levei um tapa do cobrador de uma van enquanto pedalava pelo canto da Estrada do Galeão, em situação regular. Sem falar das cortadas e finos, dos xingamentos.

Essas minhas pequenas experiências me fazem refletir muito sobre a índole da humanidade. Até aceito que houve melhoras ao longo da história, o mundo já foi muito mais violento, mas ainda há muito o que mudar.

Estamos vivendo a era mais pacífica da história humana. Nos anos 40, de cada 100.000 pessoas 300 morriam em decorrência da guerra. Agora é menos de 1. 

Em 2001, 557 mil pessoas foram assassinadas no mundo. Em 2008, esse número caiu para 289 mil. A taxa de homicídio caiu em 75% das nações.

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