quinta-feira, 10 de maio de 2018

Bactérias e saúde

Durante boa parte do Século XX, a medicina recomendava uma caça total às bactérias. Até hoje essa ideia reverbera, visto a quantidade de produtos antibactericidas no mercado, desde sabonetes íntimos, produtos de limpeza e uso excessivo de antibióticos. Não faz tempo que o Fantástico tinha um quadro chamado Doutor Bactéria, com dicas de como eliminar esses seres do nosso dia a dia.

Com o passar do tempo, percebemos que apenas 1% das bactérias são patogênicas, ou seja, podem nos causar doenças, e uma grande parte delas é fundamental para manter nossa saúde. Aquela história de deixar a criança pegando anticorpos brincando na areia da pracinha e convivendo com cachorros é verdadeira. Pesquisas apontam que crianças nascidas em parto natural entram em contato com bactérias vaginais da mãe que ajudam a fortalecer o sistema imunológico.

Essa nova percepção tem jogado no mercado toneladas de produtos probióticos, alimentos que possuem microrganismos vivos em sua composição, e muita gente tem perdido um pouco a noção ao defender suas propriedades curativas. Alguns afirmam, ainda sem comprovação científica, que é possível até curar câncer.

Infelizmente a ciência começou há pouco tempo a realizar pesquisas nestas áreas, mas já existem alguns indícios: esse excesso de limpeza de ambientes e da comida (alimentos processados são esterilizados) ajudaram a enfraquecer nossos corpos, resultado totalmente oposto àquele desejado quando esta onda anti germes começou. Este enfraquecimento pode ter ligação com o considerável  aumento do número de crianças que hoje em dia são alérgicas, índices maiores do que os registrados em gerações anteriores, o que tem preocupado médicos e cientistas.


As bactérias presentes na vagina também possuem função de proteção contra a entrada de agentes nocivos, então sabonetes íntimos antibactericidas podem ser prejudiciais. O mercado faz de tudo para fazer as mulheres se sentirem sujas, dizendo que seus cheiros naturais são ruins, tudo isso para vender produtos de limpeza.

Diante de todas essas evidências, tenho adicionado alguns produtos fermentados naturais na minha dieta e cultivo em casa kefir, kombucha e levain, colônias de bactérias e leveduras usadas para transformar alimentos.

O kefir transforma leite em iogurte de um dia para o outro, e uso misturando com frutas e mel, fazendo molhos para salada e coalhada seca. Também pode ser usado no preparo de substitutos de queijo fresco, requeijão entre outros produtos.

Meu kombucha
Já o kombucha é usado para fermentar chás que possuem cafeína, como o verde e o mate. Confesso que é bem ruim, a colônia transforma o açúcar em ácido lácteo, deixando um sabor avinagrado, mas é possível fazer um refrigerante natural e gaseificado misturando com sucos, ervas ou raízes, por exemplo.

O levain é a fermentação natural de pães. Não possui propriedades probióticas, já que o forno mata toda a cultura, mas o resultado é delicioso. O pão é um alimento milenar e não existia fermento químico nem supermercado quando foi criado. A fermentação ocorria através dos microrganismos presentes no ar que começavam a se alimentar da farinha molhada deixada em certas condições ambientais.

Chucrute e cerveja caseira também são fermentações naturais, mas ainda não me arrisquei nestas áreas.

Virou moda

O uso desses microrganismos para fazer comida tem virado moda e Sandor Katz é considerado o guru da fermentação. Ele recentemente esteve aqui no Brasil falando com cultivadores.

Essa moda está fazendo surgir a cada dia um novo canal no Youtube, um novo livro, eventos e cursos, além de grupos que fazem doações dessas colônias para quem quiser começar. Eu mesmo já doei kefir e kombucha para amigos e desconhecidos. Geralmente as pessoas desses grupos também são ligadas a ideias mais colaborativas de mundo, de enfrentamento ao consumismo e com hábitos de vida que visam diminuir a geração de lixo e poluição.

É um universo bem interessante. Recomendo fortemente o livro Cozinhar - Uma História Natural da Transformação, de Michael Pollan. Também tem a série Cooked, da Netflix, baseada no livro.

Mas não deixe de tomar banho

Obviamente não podemos deixar de manter hábitos de higiene como lavar as mãos antes de comer, mas é preciso achar um meio termo nesta convivência com os microrganismos, fundamentais para nossa saúde.

Atualização (23mai18): Contato com germes pode prevenir leucemia em crianças, diz estudo. 

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