domingo, 3 de março de 2019

Da relação entre terraplanistas e eleitores do Bolsonaro


Acabei de assistir o documentário A Terra é Plana. O final é sensacional, fica a dica para a galera do bloco da Netflix. O filme me fez refletir sobre alguns pontos:

1) Contorcionismo intelectual: hoje em dia é muito fácil fazer experimentos que provem que a terra é um globo. Recursos tecnológicos estão cada dia mais baratos e acessíveis e o filme mostra um grupo que utiliza algumas dessas ferramentas na tentativa de provar que não existe curvatura na superfície do planeta. Eles falham miseravelmente, mas ao invés de mudarem suas crenças a aceitarem os fatos, precisam conceber desculpas cada vez mais mirabolantes para explicar os resultados. E assim vão criando narrativas que ficam mais alucinantes com o passar do tempo;

2) Ridicularização: durante muito tempo, ridicularizar pessoas com crenças absurdas foi a forma usada para tentar dissuadi-las dessas crenças, mas isso não funciona. Cientistas entrevistados no filme entendem que os terraplanistas possuem todo o arcabouço necessário para o mundo da ciência, curiosidade e vontade de descobrir e revelar a verdade. Mas, infelizmente, essas pessoas foram desviadas do caminho por inúmeros motivos. Rir deles não é o melhor a se fazer, é necessário estabelecer um diálogo. Ou pelo menos tentar;

3) Grupos: um dos motivos para que as pessoas não aceitem os fatos e precisem distorcer cada vez mais a realidade numa tentativa de manutenção de suas convicções é o poder do grupo. Mudar de valores vai fazer com que a pessoa perca todos seus amigos e inicie do zero a entrada em novos círculos sociais. É um esforço e um dispêndio enorme de energia, e dentro desta dissonância cognitiva é melhor continuar no mesmo lugar.

Esses três pontos podem ser aplicados a qualquer grupo, inclusive no dos eleitores do Bolsonaro. Já temos provas contundentes do quanto a família é corrupta e inábil para a gestão, mas mesmo assim os bolsonaristas criam narrativas estapafúrdias para justificar e distorcer a realidade. Compreensível, mudar de crença é entrar diretamente com conflito com os seus e virar um pária.

Me afastei dos eleitores do Bolsonaro por um motivo de saúde e sanidade mental. Sou um humanista e não quero essa 'energia' ruim em volta de mim. Colocar no governo um cara que defende os valores que ele defende me faz mal, fisicamente falando, mas está chegando a hora da reaproximação. E espero ter a leveza necessária para estabelecer um diálogo saudável e sem ridicularizar ninguém.

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