Tenho tentado criar espaços seguros nos meus relacionamentos, fazer com que o espaço entre mim e meu interlocutor possa ser um lugar onde não sejam necessárias máscaras, armas ou armaduras. Garantir que qualquer coisa possa ser dita, sem julgamentos, sem ofensas.
Em um mundo fluido, no qual ninguém mais se importa com ninguém, no qual trocamos de relacionamentos com um passar de dedo na tela do celular, se sentir acolhido tem sido cada vez mais difícil, e muita gente só encontra esse tipo de acolhimento por duzentos reais a consulta. Por isso tenho feito um esforço consciente para acolher os outros, e esse esforço passa por três premissas:
1) Escuta afetiva: realmente parar para escutar o outro, entendo toda a história com empatia. Saber a importância de ouvir e segurar minhas opiniões para outros momentos;
2) Não julgar: tento controlar todas minhas reações, como expressões faciais e respiração. Não importa o que estão me contando, pode ser o caso mais absurdo que eu já tenha ouvido, ouço tudo com naturalidade e não faço nenhum juízo de valor. Nenhum;
3) Sigilo: uma certeza dou a todos que se abrem comigo, que é a garantia de sigilo. Nunca, em nenhuma hipótese, vou contar para outra pessoa o que me foi confidenciado.
Na maioria das vezes não funciona, mas em alguns casos sim. Trabalho numa organização que tem como voluntários pessoas em situação de risco, e sentar e oferecer toda minha atenção faz parte do meu dia a dia e vejo a importância que isso tem.
No Bike Anjo, trabalho voluntário no qual ensino adultos a andar de bicicleta, também tenho contato com traumas e muitas outras questões, e muitas vezes só ouvir já ajuda a pessoa a superar algumas barreiras para começar a pedalar.
Sejamos todos espaços seguros para os outros.
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