Outro dia fui representar o Bike Anjo no Prêmio Cidadão Socialmente Responsável, organizado pela turma de produção de eventos da Unisuam. O reitor estava presente e aproveitaria a oportunidade para criar um climão com meu discurso, mas, infelizmente, não ganhamos. Como tá entalado na garganta, segue abaixo o que eu falaria:
“O Bike Anjo realiza diversas atividades, sendo a principal delas ensinar pessoas de qualquer idade, crianças, adultos e idosos, a andar de bicicleta. Outra linha de atuação nossa é junto aos poderes executivos e legislativos, pressionando para criação de políticas públicas que defendam os ciclistas e que estimulem os deslocamentos ativos, além de criar estruturas cicloviárias pela cidade.
Em 2015, uma das promessas do Rio para sediar as Olimpíadas foi instalar 450 quilômetros de ciclovias e uma delas passaria aqui em frente a Unisuam. A universidade foi contra. Até pensei em recusar o convite para estar aqui quando me lembrei disso, mas resolvi aproveitar a oportunidade e falar como grandes empresas se maquiam como sustentáveis, mas que por trás realizam ações que vão contra seu discurso estampados nas belas peças publicitárias.
Naquela época, eu e mais alguns amigos fizemos uma intervenção com projeções na faixada do prédio e usamos a hashtag Unisuam contra a sustentabilidade. Infelizmente perdemos a batalha e a ciclovia não existe mais, só sobraram bicicletas desbotadas pintadas no chão, vocês podem vê-las ao sair daqui.
Hoje a cidade está abandonada e a bicicleta não faz parte mais da pauta governamental, mas acredito que o Rio vai voltar a ser a cidade que merece ser, que tem vocação para ser, voltaremos a discutir mobilidade sustentável e, novamente, uma ciclovia vai passar aqui em frente. Não estou aqui para causar um climão nesse evento tão bonito, mas quero aproveitar a presença do reitor para pedir, quando este dia chegar, que ele nos apoie, aí, sim, um Prêmio Cidadão Socialmente Responsável vai fazer sentido nesta universidade.
O Bike Anjo vai muito além de ensinar pessoas a andar de bicicleta. A gente ajuda a criar uma cidade mais humana, derrubamos muros invisíveis que nos separam e criamos espaços seguros, já que várias pesquisas já comprovaram que quanto mais ciclistas estiverem percorrendo as ruas menores são os índices de acidentes.
A gente usa a bicicleta como ferramenta de defesa da democracia. Eu e várias pessoas escolhemos nos locomover pedalando e cidades verdadeiramente democráticas são aquelas que permitem que todas as escolhas possam ser feitas de forma segura.
A imposição de um único meio de transporte é uma característica totalitária e lutar contra o totalitarismo nunca foi tão importante, já que estamos vendo claros sinais de fascismo no nosso dia a dia. Censura, ataques a populações vulneráveis, prisões arbitrárias, pedidos da volta da ditadura, AI-5 e execução de opositores políticos. O ovo da serpente está sendo chocado e temos que usar todos os espaços para impedir que isso aconteça.
Por fim, queria dizer que não existe consumo sustentável no capitalismo. Boa noite.”
Tá bom, talvez não dissesse a última frase sobre o capitalismo, mas o resto estava pronto para sair.
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