quarta-feira, 29 de junho de 2016

A relação entre Aécio Neves e Nicolas Cage


No Filme Senhor das Armas, Nicolas Cage interpreta um traficante internacional de armas que é perseguido por um incorruptível agente da Interpol. Quando a prisão é finalmente realizada, os dois ficam numa sala de interrogatório e Yuri, o traficante, faz o seguinte discurso:

Logo vão bater a porta e você será chamado para sair. No corredor estará um homem superior a você. Primeiro ele vai cumprimentá-lo pelo ótimo trabalho que você fez, que você está tornando o mundo um lugar melhor, mais seguro e que você vai receber uma recomendação e uma promoção. Aí vai dizer a você que vou ser libertado. Você vai protestar. Você provavelmente vai ameaçar se demitir, mas no final eu vou ler libertado. 
Serei libertado pela mesma razão que você achou que eu seria condenado, eu coço as costas de uns dos homens mais vis e sádicos que chamam a si mesmos de líderes. Mas alguns desses homens são inimigos dos seus inimigos. E além disso, o maior negociante de armas do mundo é o seu chefe, o presidente dos Estados Unidos da América, que em um dia transporta mais mercadorias do que eu em um ano.Algumas vezes é embaraçoso ter as impressões digitais dele em uma arma.
Às vezes ele precisa de um freelancer como eu para dar a força que ele não pode fornecer. Você pode me chamar de mal, mas, infelizmente para você, eu sou um mal necessário.

Os acontecimentos previstos por Yuri acontecem e um dos maiores traficantes do mundo, responsável por colocar armas nas mãos de crianças em países pobres da África, é solto e ainda recebe uma indenização.

Fico imaginando uma cena parecida acontecendo aqui no Brasil durante o episódio do Helicoca. Relembrando a história, um helicóptero com 445 kg de pasta base de cocaína foi apreendido pela Polícia Federal numa fazenda no município de Afonso Cláudio, onde Aécio Neves possui propriedades e palco de outro imbróglio envolvendo aquele que por pouco não virou presidente do Brasil, o aeroporto construído pelo governo nas terras da família do senador. A aeronave era pilotada por um funcionário do gabinete do então deputado Gustavo Perrella, que recentemente foi nomeado para o cargo de Secretário Nacional do Futebol, ligado ao Ministério dos Esportes. Os Perrellas são proprietários do aparelho onde estava a droga e, diante dos fatos, provavelmente também da mercadoria.

Na minha imaginação, vejo agentes da PF tentando interrogar o piloto que, calado, é solto instantes depois por uma ordem superior, tal qual no filme com Cage.

Assim como na ficção, aqui não deu em nada. O caso foi anulado, ou seja, é como se nunca tivesse acontecido. A aeronave foi devolvida, assim como, talvez, a cocaína. Além disso, a justiça saiu mandando tirar do ar notícias, numa tentativa de abafar o evento e proteger os envolvidos. A única pessoa presa foi um jornalista que editou uma reportagem sobre o assunto.

Sentiu o drama? Se nos Estados Unidos o tráfico de armas tem envolvimento de grandes figuras da política, por aqui temos o atacado das drogas que abastece, entre outros destinos, a Europa. Quase tivemos um presidente com fortes suspeitas nesse esquema, porque, afinal de contas, quem não conhece o esquema do Aécio? Fundamental assistir o documentário abaixo, Helicoca, o helicóptero de 50 milhões de reais.


Li em três dias o livro O dono do morro, um homem e a batalha pelo Rio, que narra a ascensão do traficante Nem da Rocinha. O autor, Misha Glenny, especialista em tráfico internacional de drogas, conta que no Brasil existem dois grandes mercados de entorpecentes: o varejo, vendido nas favelas por facções criminosas, e o atacado, responsável por abastecer outros países e realizado por empresas legais, principalmente no ramo do agronegócio, como exportação de carne, coincidentemente (ou não), um dos ramos de atuação da família Perrella.

A narrativa de Glenny é fabulosa, a história idem, mas publicações que contam histórias dos traficantes cercados por seguranças armados nas favelas existem aos borbotões. Onde estão os livros que contam a outra parte do tráfico, aquela dos grandes empresários ligados a senadores, deputados e outros figurões da política nacional? Conhecemos bem os nomes dos varejistas, mas quem são os responsáveis pelo exportação, figuras que aparecem na mídia, amigos de celebridades, juízes, homens de negócios e políticos? Ninguém sabe, e quem chamou minha atenção para isso foi minha companheira. Essa história não vira livro, e é provável que a mídia esconda essas informações por conivência. 

Bem, pelo menos temos algumas indicações e os acontecimentos recentes apontam para a família Perrella e o senador Aécio Neves como alguns desses nomes, como alguns desses grandes narcotraficantes. Agora, vai na cadeia dar uma olhada em quem está preso?

É, meus amigos, existem mais coisas entre o céu e a terra do que pode supor nossa vã filosofia.

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