segunda-feira, 30 de abril de 2018

A escola é chata

Não tenho televisão em casa há cinco anos, mas assisto Youtube diariamente. Cozinhando, lavando a louça ou comendo, coloco o celular na pia ou na mesa e deixo os vídeos passando. Minha atual predileção são canais que fazem divulgação científica, com vídeos que na maioria das vezes não passam de um bate papo entre jovens cientistas e pesquisadores que traduzem para uma linguagem acessível o que acontece na academia.

A forma de abordagem dos temas é sempre incrível, e simples, e me fazem gostar de ciência e lamentar pelo tempo que joguei fora na escola. Não existe nada mais medieval e ineficiente do que uma sala de aula tradicional, dinheiro e tempo jogados fora, dos alunos, professores e pais que pagam a mensalidade. Não lembro de absolutamente nada do meu ensino médio, disciplinas como química e física simplesmente desapareceram da minha lembrança e só agora, já adulto, começo a me encantar com esses assuntos. Culpo sem nenhum constrangimento o sistema educacional e, com um menor grau de responsabilidade, meus professores, com algumas exceções.


Me dá gastura lembrar que entrava numa sala e copiava o que o professor ia escrevendo no quadro. Depois que todos terminavam, tudo era apagado para mais uma leva de cópia. Absolutamente nada me restou, apenas decepção pelo que eu poderia ter aprendido e não aprendi. Uma professora de matemática usava anotações amareladas do tempo, exatamente as mesmas utilizadas quando ela dava aula para a mãe de uma colega de classe.

Não sei como é uma sala de aula hoje em dia, mas recursos tecnológicos e laboratórios são fundamentais para que todo o potencial dos alunos seja alavancado. O ser humano é um animal incrível e estamos tolhendo o talento de milhões de pessoas, cujo resultado ultrapassa o limite do indivíduo e reflete em todo o país, criando desigualdades e subdesenvolvimento. Na vida existe mais do que português e matemática, aqueles que apresentam aptidões para os esportes, artes, música, entre as dezenas de outras áreas, precisam ser estimulados.

Constituição, educação financeira, economia doméstica, cuidar de uma casa, cozinhar, plantar, leis de trânsito, são conhecimentos extremamente necessários e que a maioria das escolas ignora. Ao invés disso, fazemos os alunos decorarem fórmulas prontas que quando necessárias na vida real não serão aplicadas por que faltou a experiência prática.

Novos conteúdos

Muitos professores estão utilizando vídeos produzidos para o Youtube em sala de aula. O canal Manual do Mundo fez um no qual mostra a montagem de um hand spinner, aquele brinquedo de mão giratório que foi febre entre jovens, magnético, que explicou o funcionamento de um motor elétrico. Incrível, e aos poucos outros canais igualmente atrativos estão explicando biologia, evolução, matemática, geografia entre outras disciplinas. Assistir esse conteúdo e entender como funciona o método científico e a ciência é uma verdadeira vacina contra o surgimento de pessoas que acreditam que a terra é plana, criacionismo, que o homem não foi à lua, homeopatia e astrologia. 

Uma das coisas nas quais acredito que possa melhorar a educação é institucionalizar a ligação entre estas duas pontas, vídeos atrativos e escola. Alguns professores dão exatamente a mesma aula duas ou três vezes por dia, o que é um desperdício de recursos absurdo. Aulas em vídeo, bem produzidas, com um professor servindo de orientador para atividades práticas, é uma abordagem factível para a realidade brasileira.

Vídeo games e educação

Sempre tive preconceito com o educação à distância (EAD), achava que não teria disciplina para estudar fora de uma sala de aula até o dia em que fui experimentar os 15 dias gratuitos de uma plataforma de ensino de inglês. Hoje eu não cogito sair de casa para estudar inglês por nada. Enfrentar a rua, engarramento, deslocamento e todos os transtornos que isso representa já não me fazem nenhum sentido. A EAD conseguiu avançar principalmente por conta de um novo campo da educação: gamification, ou gamificação.

Jovens adoram jogar video games. Muitos deles passam vinte horas semanais na frente de uma tela apertando botões para matar zumbis ou alienígenas. Qualquer pessoa que passar vinte horas por semana estudando qualquer coisa vai se tornar proficiente em pouco tempo: tocar um instrumento, falar um idioma ou se aperfeiçoar em um esporte. Isso levanta duas questões:

1) Estes jovens são especialistas em video games. Como usar todo esse conhecimento para transformar positivamente a sociedade?

2) Como criar plataformas de educação que sejam tão atrativas quanto um jogo de computador?

Pesquisadores de EAD conseguiram grandes avanços na segunda questão. Através de pontuação, fases, interação entre outros elementos dos jogos, vários cursos à distância estão transformando o aprendizado, caso deste que estou fazendo. Diante disso, grandes players do ramo estão diversificando seus métodos em sala. Uma famosa franquia agora ensina seus alunos a elaborar projetos e realizar apresentações orais (pitching), além de empreendedorismo e gestão. O inglês parece até que fica em segundo plano.

O vídeo abaixo explica melhor o conceito de gamification e suas aplicações.


Educação como potência

Dá uma tristeza perceber que quase nada aprendi durante todos aqueles anos na escola, que deveria ser um lugar de potencia. Ao invés disso, milhões de jovens continuam desperdiçando seu tempo em um sistema massacrante.

Aqueles que podem pagar por uma educação diferente, com mensalidades de até dez mil reais reais, conseguem manter suas dinastias. Existem outras alternativas, como as escolas Waldorf, com mensalidades mais em conta e algumas unidades no Rio, mas nada se compara ao que a Finlândia está fazendo, com escolas sem paredes, mobiliário formado por sofás, pufes e bolas de pilates (eu estudava numa carteira de madeira extremamente desconfortável, e me disseram que o desconforto era para evitar que o aluno dormisse), os estudantes se juntam por projetos, não por turmas, e a tecnologia é parte fundamental do aprendizado. Simplesmente incrível. Educação como potência, não como forma de dominação e perpetuação de uma pequena casta privilegiada.

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