domingo, 17 de maio de 2020

Mofinho

Hidroforça de Devastação
Mofinho. Foi assim que minha mãe me apelidou quando criança, uma referência aos longos períodos em que eu ficava no quarto, muitas vezes com as janelas fechadas, criando um ambiente propício para proliferação de mofo.

Passaria pelo pelo isolamento social com mais tranquilidade naquela época, apesar de não existirem todos os recursos tecnológicos de hoje. Só tinha uma televisão na casa, sem controle remoto, que ficava na sala e com preferência de uso dos adultos, seis estações que saíam do ar um determinado horário da noite.

Nem telefone fixo nós tínhamos, o tempo corria em outra velocidade para a gente que foi a última geração analógica da história. A rua era a extensão do lar e os vínculos com nossos vizinhos eram muito mais fortes.

Tô aqui lembrando dos brinquedos que mais me fizeram não sentir necessidade de gente: maquininha de escrever, que utilizava carbono como fita, e um microscópio, que me deixava o dia inteiro dentro do quarto escuro olhando insetos e plantas.

Minha mediocridade não me permitiu avançar em nenhuma das duas profissões, escritor ou cientista, mas deixaram marcas indeléveis na minha vida.

Também ganhei o Guia Prático de Ciência, 14 volumes com dezenas de experimentos para fazer com materiais domésticos. Um pulmão com um copo, canudos e bexigas, uma bussola com agulha e imã, um sistema hidráulico com seringas. Os livros ainda estão na casa dos meus pais, a única coisa que restou e que não vou me desfazer. Não foi barato e lembro do dia em que chegou pelos correios, comprados, se não me engano, através do envio postal de uma ficha que veio junto com a Revista Globo Ciência, da qual era assinante e que também ocupou muito do meu tempo.

Todo meu atual pragmatismo tem relação direta com meus interesses na infância.

Outro presente no qual gastei horas e mais horas foi o Hidroforça de Devastação dos Comandos em Ação, uma máquina de guerra anfíbia que custou bastante dinheiro dos meus pais, comprado na antiga Eletrolândia do Cacuia. Apesar de ter imaginado diversos combates, nunca sofri do mal de querer ser militar.

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