Super Size Me 2 foi o filme mais importante que assisti recentemente, fundamental para quem curte o tema alimentação.
É um documentário gonzo que foge do tradicional “cabeças falantes” deste estilo de cinema, no qual os entrevistados ficam sentados em frente à câmera falando. Morgan Spurlock se coloca à frente de cena e com seu carisma faz rir e chorar sem tirar do longa o caráter ‘informativo’.
Morgan é um famoso cineasta e ativista estadunidense que resolveu abrir sua própria loja de fast food, a Holy Chicken! No filme ele revela como se dá esse processo, consultando especialistas em comunicação, advogados, contratando uma empresa cujo serviço é desenvolver novas receitas para restaurantes e marcas de alimentos, conversando com criadores de frango e consumidores.
O filme me despertou vários sentimentos, começando pelo desejo de correr para o McDonald’s assim que os créditos começassem a subir, passando pela empolgação em ver tanta gente criativa trabalhando no desenvolvimento dos conceitos da loja, tristeza ao ver fazendeiros endividados e terminou me dando a certeza que nunca mais comerei num fast food outra vez.
O conceito da Holy Chicken! é a transparência sobre seus produtos e a cadeia produtiva. Nas paredes estão todas as informações reais sobre a fabricação do sanduíche, passando pela exploração de fazendeiros, maus tratos animais e todas as mentiras nas peças de comunicação para fazer os clientes acreditarem que estão comendo um lanche saudável e socialmente responsável.
O que mais me chamou a atenção foi como que as pessoas, mesmo diante das informações sobre toda crueldade utilizada para a confecção daquele lanche, ainda assim entravam na fila para fazer seus pedidos. Por que elas não se indignavam?
Os clientes sabiam que para aquele sanduíche ser produzido, um fazendeiro ficou endividado (tinha o nome e uma ilustração de um deles), eram usados frangos cujas pernas quebravam porque não aguentavam o próprio peso, tinham acesso a todas as mentiras contadas por equipes de marketing para dar a falsa sensação de que aquele alimento era saudável e, ainda assim, a loja foi um tremendo sucesso, recebendo, inclusive, propostas de investidores interessados em espalhar franquias em todos os Estados Unidos, uma espécie de espetacularização do sofrimento com molho e salada.
Por que somos assim? Por que, passivamente, diante de tanta violência, apenas fazemos nossos pedidos e não movimentamos um dedo contra esse sistema cruel que explora trabalhadores e clientes em troca de dinheiro? Como podemos ficar tão indiferentes a isso?
O problema é, como sempre, o capitalismo, que coloca nossas necessidades individuais acima do coletivo e faz com a gente não se importe com as violências cometidas contra o outro. Eu quero comer esse sanduíche, dane-se se ele deixou um fazendeiro e sua família eternamente endividada. Dane-se a exploração animal, dane-se que estão mentindo para mim. Eu quero esse sanduíche e só isso importa.
O individualismo e a crença da meritocracia, tão incentivada pelo neoliberalismo, faz com que procuremos soluções individuais para nossos problemas. É a compra do carro ao invés da exigência de transporte público. É o plano de saúde no lugar de um sistema gratuito e universal. É o ‘meu’ sanduíche no lugar de uma refeição sustentável. O outro é apenas uma escada para nossos interesses.
Infelizmente apenas ter acesso à informação não é suficiente para mudarmos de atitude. Precisamos entender os processos históricos que aprisionam os trabalhadores para, desta forma, iniciarmos a transformação.
Precisamos combater esse individualismo que nos impede de darmos as mãos para a construção de um mundo fraterno e essa construção passa pelo despertar da consciência de classe.
O mundo que queremos nunca aconteceu, e imaginar esse mundo perpassa edificar teoricamente suas bases e agirmos de acordo elas.
Avante, companheiros.
(filme disponível na Amazon)
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