O Rio de Janeiro já teve uma muralha para se defender de ataques externos. Começou a ser construída em 1713, depois da invasão pirata comandada por René Duguay-Trouin em 1711.
René, durante a ocupação da cidade, ficou ‘hospedado’ no Palácio Episcopal do Morro da Conceição, onde hoje funciona o Museu Cartográfico do Exército. Durante muitos anos essa foi a mais espaçosa e bonita residência do Rio.
Ele e seus homens só voltaram para a França depois que os moradores fizeram a maior vaquinha da história carioca, que arrecadou, entre outros itens, 600 quilos de ouro, 200 bois e escravos.
Por coincidência, foi um engenheiro francês que veio ao Rio para dar uma consultoria para fortalecer as defesas do município. Entre outras sugestões, criou o traçado da muralha que começava aos pés do Morro do Castelo, perto de onde hoje ficam o Teatro Glauce Rocha e o Edifício Central, seguia paralelamente à Rua Uruguaiana (que não existia, aquela região era um charco) e terminava na subida da agora Ladeira Major Daemon, Morro da Conceição.
Seu traçado foi muito contestado na época, já que deixava fora dos seus limites o aqueduto (Arcos da Lapa), principal fonte de abastecimento d’água, e o Morro de Santo Antônio (no Largo da Carioca), cujo sítio elevado permitiria um ataque de canhões por cima do muro.
O objetivo principal da obra era fornecer proteção contra inimigos que chegassem do interior, já que os limites marítimos eram guarnecidos pelas fortalezas de Santa Cruz (Niterói) e São João (Urca).
Diante da ineficiência da proteção, que além dos motivos citados tinha outros problemas, como ser muito baixa em alguns trechos e não ser tão resistente como deveria, o empreendimento caiu em descrédito e a população começou a roubar suas pedras para construções particulares e a não respeitar a faixa de segurança, construindo casas encostadas no muro.
A muralha foi engolida pela cidade e provavelmente desapareceu por volta de 1740, sem nunca ter servido ao propósito para a qual foi construída.
Engraçado que obras inúteis que só servem para gastar dinheiro público ainda são comuns nos dias de hoje.
No mapa de 1725, coloquei em verde a Rua Uruguaiana, em amarelo as pistas da Av. Presidente Vargas e em vermelho a Rio Branco. Em preto, o traçado da muralha.
Fontes:
Livro O Rio de Janeiro Setecentista, de Nireu Cavalcanti
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