segunda-feira, 1 de março de 2021

Menos Niemeyer e mais Jane Jacobs

Costumava fazer uma palestra em empresas sobre a bicicleta como ferramenta de promoção da democracia. Entre os tópicos, falava do quanto o planejamento urbano modernista deixou as cidades doentes.

As obras do Lúcio Costa e Niemeyer não são apenas feias, seus efeitos danosos vão demorar muito para desaparecer, e a pandemia colocou um foco nesses problemas.

A cidade modernista é compartimentada, suas zonas permitem apenas um uso, como residencial, comercial, industrial ou de lazer, com a população acessando essas áreas através de carros.

Isso faz com que, por exemplo, regiões centrais fiquem vazias fora dos horários comerciais, e esse vazio é um estímulo para depredações e violência. Até poucos anos atrás, antes do início tacanho da reabilitação do Centro do Rio promovido pelo Eduardo Paes, muita gente morria de medo de andar por lá no domingo, a ainda hoje muita gente se sente insegura.

Os engarrafamentos e poluição também são problemas resultantes desse tipo de pensar a cidade, já que a primazia dos deslocamentos é do carro. Apesar das largas avenidas, a quantidade de veículos está tão grande que não tem mais espaço.

A pandemia tem mostrado mais um problema causado pelo modernismo. Com boa parte dos trabalhadores em home office, cada dia que passa uma loja fecha no centro. Restaurantes não conseguem fazer entregas já que, com a ausência de moradias, os aplicativos como iFood só disponibilizam um enorme vazio sem clientes ao redor dos estabelecimentos.

A solução para isso é a criação de zonas mistas, mesclando residência, comércio, emprego, diversão, fazendo com que a necessidade de locomoção e o uso do carro seja menor.

Felizmente o modernismo tem caído em desuso desde a década de 80, mas a gente ainda vai sofrer muito com ele.

Menos Lúcio Costa e mais Jane Jacob.

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