quarta-feira, 10 de abril de 2019

Encarando o hater

Dedico as manhãs de dois domingos meus por mês ao Bike Anjo Rio, em uma atividade que ensina crianças e adultos a andar de bicicleta. Pode parecer algo recreativo, um ativismo sem importância diante de tantos problemas mais sérios que a cidade enfrenta, mas para mim é algo que tem ligação direta com a diminuição do ódio, preconceito e, consequentemente, da violência. Na abertura do evento costumo fazer uma rápida preleção na qual eu explico essa relação, e vou tentar fazer um resumo abaixo:

No Oriente Médio, árabes e judeus estão, literalmente, se matando. Enquanto isso, aqui no Rio, as duas etnias convivem pacificamente na Saara, área de comércio popular da região central da cidade. O que faz com que em um lugar exista ódio enquanto em outro exista o respeito? A resposta é simples: aqui não existe um muro separando os dois povos.

A construção de uma barreira física que segrega a convivência entre dois grupos cria também uma barreira psicológica, fazendo com que se enxergue os que estão do outro lado como diferentes, como inimigos.

Esses muros podem ser visíveis e invisíveis. Os muros invisíveis são os muros da religião, que faz com que terreiros de cultos de matriz africanas sejam constantemente atacados, são os muros da preferência sexual que agride gays, lésbicas e outras minorias vulneráveis. São muros étnicos que permitem a execução de famílias negras. São muros virtuais, daqueles que ficam atrás de um computador atacando os outros.

Mas por aqui também existem muros físicos, como os dos condomínios, que colocam num mesmo espaço pessoas do mesmo perfil socioeconômico, criando um ambiente propício para separação entre o nós e o eles.

Ativar os espaços públicos é colocar pessoas de diferentes cores, credos e origens num mesmo ambiente. É derrubar os muros que as separam e criar pontes. Assim, com todo mundo ‘junto e misturado’, percebemos que nossas diferenças não são motivos para o ódio e surge a empatia.

Quando realizamos a Escola Bike Anjo nós fazemos isso. Criamos um ambiente de convivência entre pessoas de diferentes origens. No fundo, usamos a bicicleta apenas como uma ferramenta de construção de uma cidade mais justa.

Minha motivação para escrever agora foi esta campanha da Sprite, que colocou um hater (alguém que fica na internet ofendendo outras pessoas) diante de suas vítimas, que vestiam camisetas nas quais estavam escritos os xingamentos. O muro virtual foi derrubado, e aposto que a vida desse garoto mudou.

Referências

Sobre árabes e judeus convivendo pacificamente no Rio:

O condomínio torna a cidade mais desigual:

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